Pesquisa encontra relação entre enxaqueca e abusos emocionais, físicos e sexuais na infância. Traumas aumentam em 55% as chances de manifestação desse tipo de cefaleia
Crises de enxaqueca em adultos podem estar relacionadas com problemas ocorridos na infância, sugere um estudo americano apresentado recentemente na 68ª Reunião Anual da Academia Americana de Neurologia. Os autores da pesquisa afirmaram que pessoas com traumas emocionais no passado têm mais chances de sofrer com esse tipo de cefaleia. Na avaliação dos pesquisadores, os achados ajudam a desvendar a causa desse recorrente problema de saúde e podem auxiliar no desenvolvimento de tratamentos para o forte incômodo.
No estudo, os cientistas analisaram um grupo de 14.484 pessoas com idade entre 24 e 32 anos. Desse total, 14% tinham o diagnóstico de enxaquecas recorrentes. Os participantes responderam questionários sobre o histórico de vida e de saúde, informando inclusive se, quando crianças, haviam sido vítimas de abuso emocional, físico ou sexual. Os autores se surpreenderam ao notar que 61% dos pacientes com as fortes dores de cabeça relataram ter sofrido alguma dessas experiências no início da vida.
Depois de levar em consideração fatores que podiam aumentar a probabilidade de enxaqueca – como idade, renda, raça e sexo –, os autores concluíram que sofrer algum abuso na infância aumenta em 55% as chances de a pessoa, mais tarde, ter a cefaleia. Os investigadores também notaram que as vítimas de abuso emocional tinham 52% mais possibilidade de sentir as dores em comparação com as que sofreram violência física e sexual.
“O abuso na infância pode ter efeitos duradouros sobre a saúde e o bem-estar. Especificamente, o trauma emocional mostrou o elo mais forte ao risco aumentado de enxaqueca”, afirmou Gretchen Tietjen, pesquisadora da Universidade de Toledo, em Ohio (Estados Unidos) e uma das autoras do estudo. “Mais pesquisas devem ser feitas para entender melhor essa relação entre o abuso na infância e a enxaqueca. Ainda assim, essa é uma informação que os médicos podem considerar quando forem direcionar tratamentos para pessoas com enxaqueca”, completou. Outro aspecto mostrado no estudo e a ser mais bem investigado é a relação entre enxaqueca e problemas emocionais como depressão e ansiedade.
Outros fatores O neurocirugião Tiago Freitas, presidente da Sociedade Brasileira de Neuromodulação, acredita que os achados do estudo podem ser levados em consideração nos consultórios médicos. “Já usamos muita medicação para enxaqueca, como medicamentos para ansiedade e depressão, mas dados como esse ajudam a corroborar essa incidência já vista. E isso pode ajudar os médicos na hora de atender os pacientes, ficando atentos ao passado deles. Possíveis abusos ocorridos durante a infância podem ter sido um catalisador para esse problema de saúde”, diz.
Segundo Freitas, também vale frisar que outros fatores estão envolvidos na enxaqueca, principalmente o genético. “É importante ressaltar que existem vários fatores ligados a esse tipo de cefaleia, mas, para que o paciente a manifeste, existe a predisposição genética. Por isso se avalia o histórico da pessoa quando ela procura um médico. É um dos principais fatores a se levar em conta. Se na família já existem casos, as chances podem ser maiores”, disse.
O especialista destaca também que a dor de cabeça já havia sido ligada a problemas emocionais na área médica. “Temos vários fatores ligados à ansiedade que podem se manifestar como sintomas físicos. Quando ocorrem traumas emocionais, existe uma manifestação de dor de cabeça já conhecida. Essa ligação com a enxaqueca reforça o que já havia sido visto anteriormente e nos faz pensar que o impacto desses abusos pode ser maior do que se imaginava.”
Sintomas
Em uma crise de enxaqueca, além da dor forte e pulsante na cabeça, a pessoa costuma sentir incômodo forte nos seios da face e na nuca, além de náuseas, aversão à claridade, irritabilidade e lacrimejamento. O tratamento geralmente é composto de remédios para aliviar as crises, mas pode variar para cada paciente.
Química
A enxaqueca é uma enfermidade relacionada ao desequilíbrio bioquímico em regiões do cérebro, envolvendo uma série de substâncias, como os neurotransmissores, neuropeptídeos e hormônios. Esses elementos cerebrais desencadeiam tanto sensações físicas, como a dor, quanto respostas emocionais e comportamentais, o que pode explicar por que algumas pessoas sofrem tanto com a cefaleia quanto com males emocionais, tais como pânico, depressão e ansiedade.
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